segunda-feira, 18 de julho de 2011

VAI COM DEUS, JOHNNY ROCK DAYS


Cara, a vida é muito doida mesmo. Ou é muito doido quem tenta entender a vida, sei lá.
João Rocha Dias Filho, que pra banda era Johny Rock Days.
Johny Rock Days era um cara que, se existe uma atitude rockstar, ele era a personificação disso. Morava sozinho por escolha. Mesmo depois que suas irmãs insistentemente o chamaram pra morar com elas ele preferia continuar sozinho. Pra cada convite desses a resposta era “se mete com sua vida!”. Típico. Sempre resolveu tudo da forma que quis, quando quis e mesmo que suas escolhas não tivessem sido as mais acertadas, foram sempre as mais convictas. Do tipo, “fiz mesmo! E daí?”
Ele nunca me contou como foi sua infância, me contava mais algumas histórias da sua juventude (impublicáveis para esse dito respeitado canal de comunicação) das quais a gente normalmente morria de rir e pensava “caraca, e eu achando que era doido”.
Quando jovem tinha seu grupo musical também. E numa dessas aí minha mãe caiu nas lorotas dele. Mais uma vez vou contar a famosa história da camisa do Jerry Adriani:
Minha mãe é louca fanática pelo Jerry Adriani. Na época era meio um Elvis brasileiro. Minha mãe tinha uns 15 anos de idade e rolou um show do cara aqui em Vitória e a banda do velho tava lá. O Jerry teve sua camisa rasgada pelas fãs enlouquecidas. Johny Rock Day usava uma camisa bonita verde de cetin, se não me engano (se era azul de algodão, não importa também.) e o Jerry passou por ele, olhou a camisa e falou: - Camisa bonita cara, me empresta pra eu fazer o show? Acabaram de rasgar a minha...
Claro que o velho emprestou. E claro que ele usou a história da camisa pra passar o caô na minha mãe. A velha caiu.
Tive oportunidade de ler algumas cartas romanticas que ele escreveu pra minha mãe. Naquela época não tinha celular pra se mandar mensagens de madrugada jurando amor eterno e não se corria o risco de alguém te ligar as 3 da manhã e perguntar “tava dormindo?”. Toda carta que eu lia eu olhava pra velha e perguntava “mãe, você caiu mesmo nessa???”. O velho era muito loroteiro. Mas o fila da mãe escrevia bem e tenho certeza que qualquer uma que lesse uma carta dele hoje cairia na conversa dele.
Ele fazia tudo muito bem. Fez aquário lá pra casa, quadro de quebra-cabeça gigante, carrinho de rolimã pra mim. Nunca foi aquele pai de novela do Manoel Carlos, nunca ouvi ele falar que amava nenhum dos filhos, mas ele não precisava. O jeito que ele falava da gente, a forma que ele demonstrava preocupação, a empolgação que ele falava das vitórias dos meus irmãos, a cara de bobo que fazia quando me via tocando... não tem muitas palavras que substituam isso.
Gostava de música boa de verdade. Ouvia Led Zeppelin, Pink Floyd, Jimmi Cliff, Zé Ramalho, Raul Seixas e samba de qualidade. Tinha um batuque no porta malas do carro e desde moleque ele  me botava pra tocar surdão. O cara tocava repinique bem pra caramba.
Obrigado por tudo, Johny Rock Days. Obrigado por me ensinar todas as coisas boas e por me fazer aprender também com as coisas ruins. Obrigado por me fazer rir muito mais do que chorar, obrigado por toda a força que me deu, obrigado por ser meu maior fã.
Viveu como quis, morreu como escolheu.
Tenho certeza que quando chegar no céu Deus vai pedir uma reunião com São Pedro e assim que acabar essa reunião São Pedro vai falar: “beleza, pode entrar. Mas COMPORTE-SE, TÁ ENTENDENDO?”
Um beijo grande.

Jean


Joao Rocha Dias Filho - *14/11/47 +13/07/2011

4 comentários:

Carol_Duarte disse...

Caramba Jean,

Emocionante, como todos, mas com certeza o post mais especial. E olha que ironia do destino, Johny ROCK Days, se foi, justamente no DIA DO ROCK!

Que ele descanse em paz!
Fiquei com vontade de ter conhecido a fundo, apesar de já tê-lo visto algumas vezes...

Bjs, estamos aqui, como disse e repito, PARA O QUE DER E VIER!

Beijos,
Carol Duarte
Sempre fã!

Diana Garcia Mortensen disse...

Caramba Jean, tens uma afinidade com as palavras, tua narrativa é nobre, não deixa nada de fora, ate eu que vivi noutra época sem conhecer Johnny me amarrei nesse cara que teve a honra de dividir o oxigênio contigo, sabe prender o leitor por isso digo nobre, adorei!

Alzejones A. Dias disse...

Meu irmão, certamente dentre vários dons que você herdou dele, está a habilidade com as palavras. Não sei o que me emocionou mais, lembrar das histórias do "velho" eterno adolescente, ou da incrível maneira que você a descreveu. Uma das crônicas mais fantásticas que já lí na vida!
Ele sempre será seu fã Nº 1, e como não dá pra competir, me contento com o posto de ser seu eterno fã nº 2. Parabéns pela pessoa que vem se tornando.

beijos e abraço,

de seu irmão que te ama muito,

Alzejones

Rubem Cunha disse...

Saudade eterna.
João Tontinha.

Rubem De Almeida Cunha Junior.